quarta-feira, janeiro 24, 2007

ESTUDO DOS MOMENTOS E RUPTURAS EPISTÊMICAS DA FILOSOFIA (RENASCENTISTA, CLÁSSICA E MODERNA) EM M. FOUCAULT.

Introdução
Procuraremos a partir dos estudos arqueológicos de Foucault[1], ressaltar três momentos epistêmicos na história da filosofia ocidental; momentos que somados, isto é, vistos em conjunto, possibilitam a observação de certas rupturas entre um e outro (certos saltos epistêmicos ou descontinuidades históricas); ou seja, observaremos certos recortes em que ocorrem alterações fundamentais dentro do pensamento filosófico na cultura Européia.
Os três momentos que denotam tais rupturas são: “episteme renascentista” (do séc. XV ao XVI), “episteme clássica” (do séc. XVII ao XVIII) e “episteme moderna” (do séc. XIX ao XX).
De acordo com Foucault, a “episteme” (ou ciência) designa um conjunto de conhecimentos de uma dada época, ou seja, aquilo que uma dada época representa em termos de conhecimentos realizados.

Algumas considerações sobre o momento da episteme renascentista[2].
A episteme renascentista considera as similitudes [3] como sendo fundamentais no seu desenvolvimento; Foucault identifica quatro similitudes: conveniência, emulação, analogia e simpatia. Vejamos:

. Por conveniência entende-se a “relação articulada das coisas”, relação entre seres reais no espaço, lugar e proximidades. Ora, é importante enfatizar que de acordo com Foucault, no renascimento o homem identificava as coisas por meio de seus sinais, com efeito, podia relaciona-las nas suas similitudes. Assim, tudo era repleto de sinais e podia ser interpretado; por exemplo: na relação do mar e areia, pedra e vento há comunicação espacial, pois nesta relação era possível ler suas articulações manifestas em sinais.

. Por emulação entende-se a conveniência abstraída do espaço, lugar e proximidades; significa que não há ligação no espaço físico, nem na proximidade física. Afinal, ocorre a similitude pelo distanciamento das coisas; como o reflexo no espelho. Não se concebe a coisa em si, mas o seu reflexo (aquilo que a coisa faz conhecer). Desta forma verifica-se que o rosto corresponde ao êmulo do céu, a distância entre os astros dos céus e o rosto do homem representa um reflexo furtivo ao longe.

. Por analogia entende-se aquela proximidade do distanciamento e o distanciamento das proximidades; pressupõe a conveniência e a emulação. Compreende as relações com as coisas, como dos animais e as plantas em que o animal é uma planta de cabeça para baixo e a planta é um animal de pé e que cresce para cima. Constitui-se pela relação entre coisas e não das próprias coisas em si mesmas.

. Por simpatia entende-se pela transformação promovida na atração das coisas (girassol atraído pra o sol); onde ocorre o movimento no sentido daquilo que atrai. Assim, a simpatia é um “princípio de mobilidade”, sendo que é pela atração que existe transformação da coisa naquilo que atrai, tornando as coisas semelhantes. Entretanto, verificamos no “princípio de mobilidade” a transformação contrária, que é a antipatia; pois nela o movimento é de repulsa, há um afastamento recíproco das coisas, como o fogo que é quente e seco e a água que é fria e úmida.

Conforme Foucault, as coisas invisíveis são conhecidas pelas visíveis na “episteme renascentista”; o que significa, que em tal episteme acredita-se que Deus é manifesto nas coisas por meio de sinais; ou melhor, que Deus imprime nas coisas os sinais necessários para que o homem conheça o invisível pelo visível. Desse modo, o conhecimento humano ocorreria na esfera da “semiologia” (localização dos sinais determinados por Deus) e da hermenêutica (busca das similitudes invisíveis).
A episteme renascentista é caracterizada pela magia somada à herança cultural (caráter divinativo), como também, pela erudição (saber racional); pois envolve a decifração, isto é, o conhecimento constituído pelo processo de observação, imaginação, indução e adivinhação.
. Nela interpretar é conhecer, e conhecer é saber [4], o que não deixa de ser uma condição de poder [5]; afinal, Deus teria deixado sinais em todas as coisas, e aqueles que decifrassem tais sinais é que realmente tinham posse do saber.

Algumas considerações sobre o momento da episteme clássica.
A episteme dos clássicos se contrapõe, com a hermenêutica renascentista, pela necessidade de uma analítica. Trata-se de uma diferença fundamental que serve de alicerce para um novo momento epistêmico, e seu nome é máthêsis: a ciência universal da medida e da ordem, isto possibilita estabelecer entre as coisas uma sucessão bem ordenada, ou seja, uma análise.
Em tal episteme as palavras se separam das coisas, como afirma Foucault: “... a partir do séc. XVII se perguntará como é que um signo pode estar ligado às coisas. A tal pergunta a idade clássica responderá pela análise da representação” [6].
Portanto, não há dúvidas, pois devemos ressaltar que será uma época em que as palavras e as coisas se distanciam. Em que estas, as coisas, não mais falam, não mais guardam uma verdade secular. O mundo deixa de ser texto indefinidamente interpretável. Com efeito, algumas diferenças serão eminentes, a começar pelas próprias palavras que serão analisadas sintaticamente (construção gramatical); caberá à história natural o estudo dos seres vivos (incluindo o homem); e também, a análise das riquezas que tem como objeto de estudo as necessidades e os desejos.
Desse modo, a matemática passará a servir de meio fundamental, pois o mundo será analisado pelos olhos da matemática; logo, haverá mensuração e observação plena das representações do mundo, o que resultará numa visão absolutamente mecanicista.
A construção signal será dada pelo sujeito e apenas por ele, seja convencional como as palavras, símbolos etc; ou natural como o reflexo no espelho. Portanto, toda a realidade será uma construção bem articulada do sujeito.
É importante considerar que diferente da episteme renascentista que considerava significado das marcas (domínio formal), o significante (conteúdo) e as similitudes, a episteme clássica considera apenas o significante e o significado; mas, de modo adverso, pois o signo esta no próprio pensamento, ele é a ligação de uma coisa e a idéia de outra. O conteúdo é a representação no significante, daí constitui-se aquela representação da representação; afinal, não há nenhuma concepção da coisa real, é o próprio pensamento a condição determinante. O signo é a representação da representatividade representável, é a ligação plena do significante com significado.
Portanto, não é Deus que imprime nas coisas os sinais necessários para que o homem conheça o invisível pelo visível; afinal, na episteme clássica pode-se dizer que o invisível é no visível, porque é a representação não representada; significa que o sinal, ou melhor, o signal esta no sujeito e não nas coisas.
Por tudo isso, ocorre também o nascimento da literatura; pois tudo é representação e linguagem, então a imaginação ganha asas, possibilitando a criação desrealizada (exemplo: Dom Quixote de Cervantes).

Algumas considerações sobre o momento da episteme moderna
As diferenças da episteme clássica são expressivas diante da episteme moderna; afinal, enquanto a última é marcada pelo surgimento da biologia, da economia e da filologia (que estudam a vida, o trabalho e a linguagem); a primeira, como já foi apresentado, é voltada para a história natural, a análise das riquezas e a construção gramatical.
Ora, vimos que a primeira foi marcada pela primazia da representação; já no caso da segunda, haverá o desaparecimento da representação [7]; pois conforme ressalta Foucault, a episteme moderna vai "... deixando de privilegiar a estrutura visível dos seres, o conhecimento torna-se empírico; não é mais a análise de uma representação, não tem mais idéias como objeto: torna-se sintético; seu objeto é uma coisa concreta, não mais ideal, mas real, tendo uma existência independente do próprio conhecimento”.
Portanto, não convém mais encontrar respostas nas representações, mas no próprio homem, este que passa a ser o objeto de estudo. Entretanto, é na analítica da finitude que se da uma condição real para que o sujeito volte-se para si descobrindo seu objeto de investigação, ou seja, o próprio sujeito se torna fonte reveladora de si mesmo.
Na finitude de seu ser o homem reconhecerá suas possibilidades reais de conhecimento, pois estará envolto com sua vida, trabalho e linguagem, isto é, de determinações extrínsecas de sua finitude; de modo que, pelas mesmas determinações reconhecerá sua soberania (sua condição de dimensionamento real).
Tornando-se o centro reflexivo da modernidade o homem repete-se a si mesmo continuamente; afinal, eis o modo da episteme moderna. Modo que explícita as positividades empíricas.
Foucault deixa evidente em sua obra (“As palavras e as coisas”) que a episteme moderna privilegia não mais a natureza, mas o homem em sua verdadeira condição.
Estudado por: Adriano de Araujo
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BIBLIOGRAFIA
FOUCAULT, Michel. As palavras e as Coisas. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2002.
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NOTAS

[1] A partir de algumas anotações em sala e breve exame da obra “As palavras e as Coisas” – (uma arqueologia das ciências humanas) de M, Foucault.
[2] É importante ressaltar que tais considerações foram abstraídas em sala de aula, ou seja, a partir das anotações, apreciações e observações do mestre; como também, da pesquisa na própria obra.
[3] Termo que deve ser entendido como “pintura ou retrato” mental.
[4] O “saber”, conforme Foucault, representaria a ciência, a filosofia, a arte, a literatura... tudo que designa a manifestação humana relacionada à um estado de magia e senso comum.
[5] Vale lembrar que para Foucault o homem resulta de suas condições (ou formações) históricas, significa que o “poder” é uma condição relacionada com a política e a subjetividade manifesta em tal ou tal momento.
[6]Extraído de: M, Foucault, “As palavras e as coisas”, ed. Martins Fontes, 1966 – pg. 67.
[7] Consideramos que Foucault demonstra neste último momento epistêmico uma expressão significativa de desenvolvimento humano; afinal, as possibilidades epistêmicas são muito bem definidas.

6 comentários:

Anônimo disse...

Estas sínteses aqui encontradas possibilitaram sanar dúvidas sobre a noção de episteme, enquanto lia um resumo da obra de M Foucault, num hotel em Capelinha, cidade do interior de Minas Gerais, para uma aula de historiografia. Portanto cabe a percepção que essa noção contem conexão com as idéias de estrato e dobra propostas também por Deleuse

Anônimo disse...

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