sexta-feira, janeiro 19, 2007

ESTUDO “SOBRE A LINGUAGEM DOS HOMENS E A LÍNGUA GERAL" EM WALTER BENJAMIN.

Desenvolvimento
Segundo Benjamim qualquer forma de manifestação da vida, seja qual for, é concebida pela linguagem; afinal, em tudo que existe há linguagem, e é por meio da língua ou linguagem que se faz conhecer conteúdos espirituais.
É atribuída à linguagem toda expressão constituída por meio da comunicação espiritual; pois é a essência íntima que se torna manifesta, tudo se diz pela língua.
Para que haja melhor entendimento convém esclarecer que ocorre uma distinção entre essência espiritual e essência da linguagem; daí, o termo logos possui duplo sentido sendo capital na teoria da linguagem, e é paradoxo que não se pode compreender.
É importante notar, também, que a essência espiritual ocorre na linguagem e não pela linguagem; pois ela difere da essência lingüística; a única semelhança entre as duas é que ambas são comunicáveis.
A linguagem comunica a essência lingüística das coisas, ora, “toda a língua comunica-se a si mesma”; pois é mediação do comunicar. E a mediação da linguagem configura a imediação da comunicação espiritual.
Com efeito, essa comunicação espiritual é o que há de misterioso, de mágico, isto é, pela imediação comunicável; o que caracteriza o problema da língua. Logo, cada palavra transporta uma magia transformadora, que conforme Benjamim, constitui um poder transformador.
Até a essência espiritual do humano é comunicada pela língua, ou seja, é comunicada no ato de nomeação das coisas; significa que, só a língua humana nomeia, não há outra; daí a essência da linguagem do homem residir no ato de nomeação.
Entretanto, é digno questionar: o homem é comunicado a quem?... E qual o fim da nomeação?... Diante de tais questões, Benjamim, examina o comunicar-se do homem; e concluí que no nome a essência espiritual do homem se comunica a Deus.
A essência espiritual comunicada no nome é a língua; pois é ela que dá ao nome a condição patrimonial da linguagem humana, sendo a linguagem a essência espiritual do homem, o que indubitavelmente, evidencia a diferença de linguagem humana e linguagem das coisas.
A representação espiritual de todas as coisas reside na linguagem aplicada pelo homem.
A língua da língua é o nome; entretanto, o nome também constitui o seu último apelo. Dentro da língua a essência espiritual diz-se pura, lá onde ela diz-se, no nome, que é denominação universal. Ora, acerca do nome, vejamos: nele “culminam a intensiva totalidade da língua enquanto totalidade da essência absolutamente comunicável e a totalidade extensiva da língua enquanto totalidade do ser (nomeador) universalmente comunicante”.
Onde não houver essência espiritual, dentro de tal universalidade, a língua será imperfeita; cabe ao homem a perfeição, isto é, do ponto de vista da universalidade e intensidade.
Com efeito, poderia questionar-se sobre a fundamentação da teoria lingüística a partir da essência espiritual; conforme Benjamim, pode ocorrer que a essência espiritual seja idêntica à essência lingüística; afinal, a coisa é, em sua essência espiritual, o meio no qual ocorre comunicação, e o que nela comunica é propriamente o meio, ou seja, a língua. Assim, a linguagem é a essência espiritual das coisas; a essência espiritual é comunicável pura e simplesmente.
Desse modo, constitui-se um alcance metafísico, isto é, desde que se equipare a essência espiritual à essência lingüística; com efeito, haverá proximidade da Filosofia da linguagem com filosofia da religião.
Na estrutura lingüística há aquele conflito entre exprimível e inexprimível, pois quanto mais o inexprimível se faz real, mais exprimível se torna, sendo o inexprimível a essência espiritual; assim, enquanto for exprimível maior será a realidade espiritual; e isso ocorre em níveis hierárquicos no modo de apreensão das essências espirituais. Afinal, Benjamim faz referencias ao Gênesis (Bíblia) quando evidencia a espiritualidade lingüística.
Em conseqüência da imperfeição lingüística, as coisas se tornam mudas (Torre de Babel caracteriza tal imperfeição). A linguagem é o meio pelo que as coisas foram criadas por Deus, daí o poder implícito na linguagem, sua magia.
O homem é criado por Deus mediante o Verbo; de tal modo que, o homem possui o dom da linguagem, e se torna espiritual, com efeito, permanece acima da natureza criada.
O ato criador ocorre todo pela linguagem; logo, Deus conhece a essência espiritual de todas as coisas; e tal conhecimento no homem é impossível, embora, ocorra que na linguagem humana haja o reflexo do Verbo criador no nome.
O nome próprio é a palavra de Deus expressa em sons humanos; ele constitui a ligação do homem com a palavra criadora de Deus. As coisas criadas não possuem palavras (a não ser a palavra criadora, que é Divina), porém, foram reconhecidas em seus nomes segundo as palavras do homem.
No campo lingüístico se encontra a língua, que possui a palavra própria para designar a conexão entre concepção e espontaneidade. Trata-se do movimento da linguagem das coisas para a linguagem humana; e pela transposição de uma língua para outra, isto é, por meio de espaços contínuos de transformação, é que ocorre a tradução.
Tudo esta conectado ao Criador (Deus) por meio de suas essências espirituais; pois conforme Benjamim, Deus delegou ao homem a nomeação de todas as coisas, daí o homem tomou o que era “mudo” e nomeou por meio de sons.
A palavra muda é substrato da palavra nomeadora que se submete à palavra criadora de Deus. De acordo com Benjamim, com o pecado original nasce a palavra humana, na qual o nome deixa de ser intacto.
Portanto, há de fato, o pecado original do espírito lingüístico; pois o homem abdica da imediação na comunicação passando à mediação; disso decorre o uso da palavra vã, a tagarelice. Conseqüentemente, o homem caiu (pelo pecado) na pluralidade lingüística; pois o espírito lingüístico foi abalado, e na tagarelice as coisas se sujeitam à loucura. Esse foi o contexto da Torre de Babel e, com ela, a confusão das línguas.
Enquanto estava no puro espírito da língua o homem era feliz, realizado; sua realização na mudez da natureza, por meio do nome, expressava sua felicidade; entretanto, após o pecado original, Deus lança sua maldição e a natureza é alterada. Assim, tem início a mudez da tristeza profunda da natureza. A natureza padeceria pela própria ausência de linguagem.
A linguagem da poesia, escultura, pintura etc; se funde na linguagem nomeadora dos homens.
O conhecimento das formas artísticas devem ser vistas como linguagem em conexão com a linguagem da natureza; como no caso do canto com a linguagem dos pássaros.
Por outro lado, a linguagem da arte só pode ser compreendida se ligado à teoria dos signos. Sem ela, qualquer filosofia da linguagem permaneceria totalmente fragmentada, pois a relação entre linguagem e signo é originária e fundamental.
A língua não se constitui apenas pela comunicação do comunicado, mas também, pelo símbolo do que não é comunicado. Tanto ao nome como ao julgamento há esse aspecto, pois ambos não possuem apenas uma função comunicativa, mas também, uma função simbólica.É na intenção de depurar a linguagem que Walter Benjamim compõe tal pensamento; pois a linguagem de uma coisa é um meio dentro do qual sua essência espiritual se comunica. Todo movimento da linguagem se faz presente nas coisas inferiores ao próprio ser humano, e do humano à Deus. Afinal, é por meio da nomeação da natureza que o homem comunica-se a Deus; como diz: “Toda língua elevada é tradução da inferior, até que se desvele, em última clareza, a palavra de Deus, que constitui a unidade desse movimento da linguagem”.
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Estudado por: Adriano de Araújo

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