quarta-feira, janeiro 24, 2007

ESTUDO SOBRE "OS INTELECTUAIS E O PODER” (CONVERSA ENTRE M. FOUCAULT E G. DELEUZE).


Foucault inicia o dialogo citando o que um “maoísta” 1 havia dito: “Eu compreendo que Sartre esta conosco, porque e em que sentido ele faz política; você, eu compreendo um pouco: você sempre colocou o problema da reclusão. Mas Deleuze eu realmente não compreendo”.
Assim, Deleuze procura ressaltar a concepção “teoria-prática”, pois alerta que a teoria é determinante na prática, como a prática é determinante na teoria; considera que no caso da prática há um “conjunto de revezamentos de uma teoria a outra” e no caso da teoria “um revezamento de uma prática a outra”. Usa como exemplo, os estudos de no meio de reclusão nos asilos psiquiátricos, onde Foucault apresenta a necessidade de dar voz aos reclusos tornando determinante a prática na teoria. Com efeito, considera um absurdo afirmar, como faz o maoísta, que Foucault teria “passado à prática aplicando suas teorias”.
Deleuze, ainda considera que no caso de tais estudos, Foucault, havia aplicado “um sistema de revezamentos em um conjunto, em uma multiplicidade de componentes ao mesmo tempo teóricos e práticos”. Portanto, concluí que o teórico, isto é, o intelectual, deixou de “ser um sujeito, uma consciência representativa”; afinal, assim como no caso dos “reclusos”, também os representados ganharam voz na própria representação.
Foucault, então, demonstra a existência de dois tipos de intelectual, o “maldito” e o “socialista”; entende que as massas, de fato, não necessitam dos intelectuais para saber, porém, o “sistema de poder” determina tal necessidade.
Os intelectuais são parte do sistema de poder, daí se tornam “consciências representativas” pelo próprio sistema; Foucault enfatiza que o intelectual é ao mesmo tempo “objeto e instrumento” do sistema de poder, seja na ordem do “saber”, da “verdade”, do “discurso” e da “consciência”. Portanto, Foucault considera que a teoria não é determinante na prática, mas é a própria prática.
Deleuze concorda com Foucault, acrescenta que a “teoria é como uma caixa de ferramentas”, sempre válida conforme o momento e a necessidade. A teoria não totaliza, mas multiplica-se diante do que esta por vir. E qualquer tipo de representação isolada ou reforma; isto é, o “falar pelos outros” não permitindo que falem, é indigno.
Então, Foucault faz alusão à condição dos prisioneiros, concluindo que o falar, a manifestação destes expressa mais do que uma delinqüência, e sim, uma “teoria da prisão”, “penalidade” e “justiça”; permitindo o interesse do não-prisioneiro em querer ouvir tais manifestações; o que certamente causa surpresa. Ele alega que nas prisões o sistema de poder se torna evidente, pois “não se mascara cinicamente, se mostra como tirania levada aos mais íntimos detalhes, é puro...” chegando a tornar-se infantil.
Deleuze responde alegando que não são “apenas os prisioneiros que são tratados como crianças, mas as crianças como prisioneiros”; considera que tal infantilização sofrida pelas crianças, não é próprio delas, e que o mesmo que ocorre nas prisões, ocorre nas escolas e fábricas. Conclui citando o próprio Foucault, de “que não existe justiça popular contra a justiça; isso se passa em outro nível”.
Foucault acrescenta que a justiça é uma forma de poder do sistema; pois, exemplifica com a Revolução Francesa, onde os modelos dos tribunais impunham uma ideologia de justiça burguesa.

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Estudado por: Adriano de Araujo

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Bibliografia
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. São Paulo: Graal Editora. 2005.
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NOTA
1 O maoísta segue o maoísmo (Desenvolvimento teórico e prático do marxismo-leninismo (q. v.), realizado por Mao Tsé-Tung (1893-1976), estadista chinês, que prega a tomada do poder pelo proletariado e o desencadeamento da revolução cultural proletária durante a construção do socialismo, a fim de eliminar a ideologia burguesa).

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